Jovens de Mazagão, no Amapá, valorizam seu território pela fotografia analógica

Oficinas fazem parte de um ciclo formativo implementado pela Viração com estudantes de ensino fundamental para a valorização das práticas agroextrativistas por meio das técnicas de pincel de luz e câmara escura.

Por Rhafaela Resende e Natalie Hornos

A Viração, por meio do programa Escola de Cidadania para Adolescentes (ECA) , está promovendo um ciclo de oficinas ao longo do segundo semestre de 2023, na Escola Família Agroextrativista do Carvão, localizada em Mazagão, no Amapá. Os encontros fazem parte de um ciclo formativo com jovens do ensino fundamental da escola que, por meio da pedagogia da alternância trabalha a educação do campo e a proposta de uma escola-movimento, em que todas as atividades pedagógicas são voltadas para a valorização das práticas agroextrativistas em que estão inseridos. Para complementar as atividades formativas, a Viração apostou na fotografia analógica, ensinando aos jovens uma nova forma de olhar para o território em que vivem. 

Os educadores buscaram levar provocações para a sensibilização do olhar, com perguntas norteadoras: Como podemos valorizar o território em que vivemos por meio de uma nova forma de olhar? Como podemos desenvolver um olhar apreciativo para a realidade que nos cerca? O que nos rodeia no cotidiano que muitas vezes passa despercebido?

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovakloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: – Pai, me ensina a olhar!”  — trecho do texto “O Livro dos Abraços”, de Eduardo Galeano.

As oficinas foram ministradas por Anne Dias e Irene Almeida, educadoras da Fotoativa, um coletivo que há 23 anos utiliza a fotografia como meio de promover a reflexão, formação, experimentação e pesquisa da linguagem fotográfica e seus desdobramentos.

O encontro, coordenado pela analista de projetos da Viração, Natalie Hornos, contou também com o apoio da produtora local Suzane Biapino e explorou duas linguagens principais: a primeira foi a construção da “câmara escura”, na qual os jovens aprenderam a criar suas próprias câmeras com papel cartão e observaram o processo analógico de formação de imagem. Nas caixas, os participantes retrataram o seu lugar, com ícones e símbolos próprios de sua região, como o açaizal, buritizal, o Rio Amazonas, os diversos igarapés e uma natureza profunda, presente em suas comunidades ribeirinhas.

A segunda linguagem foi o “pincel de luz”, utilizando um químicos fotográficos de revelação. Os adolescentes exploraram temas como “a minha casa”, “o meu território” e “a minha comunidade” para expressar suas realidades em pequenos papéis fotográficos.

Ao todo, 56 jovens entre 12 e 17 anos participaram das oficinas, além de um grupo de 10 educadores da escola. A Escola Família Agroextrativista do Carvão adota a pedagogia da alternância e tem como foco a educação do campo, com propostas voltadas para as comunidades locais.

A Viração, em parceria com a escola, pretende incorporar elementos de educomunicação e arte-educação no percurso formativo dos jovens, ampliando as possibilidades de aprendizado e expressão das juventudes ribeirinhas amazônicas. As experiências e aprendizados dessas oficinas serão apresentados em uma exposição artística que está programada para acontecer em outubro na Escola Família Agroextrativista do Carvão, em Mazagão, Amapá.

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